sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Síria: Alepo


A entrada na Síria é algo que na comunidade de backpackers é um bicho de sete cabeças.

A primeira razão para isso é que ao mínimo cheiro de algo relacionado com Israel, fica-se logo a porta. (e eu que vim sentado ao lado de uma inglesa judia, de Lisboa para Londres, estava, obviamente, apreensivo). É possível obter um visto de entrada na fronteira por terra na Síria, caso no país de origem não haja embaixada Síria... Ora como nós ainda não temos esse prazer, não precisei de me preocupar com este visto com antecedência. Há cerca de 5 anos estive em Israel (neste momento estou a olhar para todos os lados aqui no cybercafe para me certificar que ninguém está a ler isto...), mas pedi para não me carimbarem o passaporte. O problema é que ter um visto de saída do Egipto ou da Jordânia, é o equivalente a ter um de entrada em Israel (quem sai em Vilar Formoso não vai parar a Paris... só quando tivermos TGV). Anyway, tudo correu bastante bem. Houve uma parte mais crítica, em que eles analisaram com muito cuidado os meus vistos egípcios do Sinai (tive lá o verão passado a fazer mergulho), a tentar cheirar alguma coisa de Israel mas nada. 34 Dolars. Thank you very nice. Welcome.

Para começar de forma agreste, tinha que andar 4 km da fronteira até ao primeiro pueblo para apanhar algum transporte para Alepo. Mas há que testar a hospitalidade síria. Dedo no ar, 3 minutos, aí estou eu, num chaço todo podre, com um tipo com turbante vermelho na cabeça, mesmo à terrorista, o filme todo! Impecável.

Após estes 4 km. Cheguei ao pueblo onde fui logo abordado pelos motoristas de minivans. Pediram 1000 libras sírias para me levarem a Alepo (8 euros para 80 km). Ofereci 200. Aceitaram. Estes 200 ainda deram para pagar a comissão a dois tipos e até a minivan final que me levou a Alepo. Preço que os meus companheiros de viagem sírios pagaram. 35 libras. E eu a pensar que era regateador do caraças...

E aqui estou eu. Síria. Esse país do Eixo do Mal. É Médio Oriente profundo. Sujo, velho, degradado, mas com o seu encanto próprio. Pessoas super simpáticas e hospitaleiras. Ao sair da minivan dois dos meus colegas de viagem levaram-me à zona onde estão os hotéis todos, só naquela de cortesia. (a verdade é que parece-me que com o desemprego em 20% na Síria, metade daquela carrinha vinha à cidade, parece-me para passear, como um tipo de Alfarelos que vai ao dolce vita ver as montras). Até chegar ao hotel ainda fui abordado por mais quatro ou cinco pessoas a perguntar se precisava de ajuda (o prémio vai para um velhote que não conseguia articular uma frase, mas fez questão de me dizer todas as palavras que sabia em alemão, francês e inglês).

Cheguei ontem. Estava estourado de tantas viagens. Encontrei o hotel que vinha recomendado na bíblia, o Lonely Planet. Um bom pardieiro, como eu gosto. Saí para comer qualquer coisa e voltei para dormir uma soneca. Ainda consegui ficar gripado enquanto tomava banho de água fria numa casa de banho sem metade dos vidros nos caixilhos da janela.

Hoje, já sob o efeito de fármacos, fui visitar a cidade. Só me esqueci dum pequeno pormenor. Alepo é conhecido pelos seus souqs, que cobrem toda a cidade velha. Hoje acordei e as ruas da cidade pareciam o descampado do Norton de Matos depois da feira. 6a feira é o dia de descanso para os muçulmanos. Ou seja, andei a passear pelas ruelas, tudo fechado. Há turistas mesmo burros, não há? Mas pronto, é da maneira que não tive que controlar os meus impulsos consumistas e atravessar meio mundo com um tapete às costas!

1 comentários:

Unknown disse...

Que cenários tão familiares. Também estive na Síria no verão passado. E a ordem é de regresso já este ano...

Revi-me nessas passagens de fronteira. No meu caso, precavi-me em Istambul com o visto, e depois foi só entrar. Ia num autocarro com vários casais de manfios estrangeiros como eu. Chegados à fronteira, os tipos do autocarro foram expeditos e não houve problema. Passei a fronteira Síria quatro vezes, e em fronteiras diferentes, e nunca houve granel.

Aleppo é interessante, relativamente calma comparada com Damasco. Estou há meses para escrever as memórias dessa viagem. Ainda não o fiz. Pelo andar da carruagem, quando regressar este verão faço um dois-em-um.

Cenários familiares não só esses. Também os da feira do Norton de Matos... E depois vou ao fundo do blog e vejo RUC e A Cabra... Também por lá passei, mas não me lembro de nenhum Relvão.